Amor Ralado
Havia tempo que estava observando aquela estranha relação.
De um lado dona Água, espichada na porta do box, contemplando do lado oposto, calado, surdo e mudo o sô. Ralo, que parecia até gostar daquela situação. Tudo bem, cada qual com seu defeito, mas cada um, bem que poderia fazer a sua parte, para contornar aquela situação. Dona Água devia despir-se do orgulho e declinar-se pra cima dele, que por sua vez, deveria ter um pouco mais de abertura, mostrando-se mais receptivo aos seus anseios.
Não se declaravam, mas também não davam o caso por encerrado. Parecia melhor tê-lo.
Eram inúmeras as perguntas que eu me fazia, quando invariavelmente toda manhã, alí sentava bem ao lado deles, com a mão no queixo, querendo decifrar-lhes, - não sei pra quê - arriscando o atraso pro trabalho.
Será que realmente nutriam atração um pelo outro e apenas esperavam por um empurrãozinho, pra realizarem-se? Ou será que eu estava conjecturando demais e nem mesmo eles se sabiam? Não sei, mas, " não há dois, sem três " reza o ditado da sabedoria portuguesa.
Gente, a coisa é tão simples, porque não ir fundo?
Sô Ralo, com certeza, tinha uma grande parcela de culpa naquele quadro platônico. Era um sujeito tipo durão, rijo, sisudo. Não movia uma palha. Não dava um passo sequer. Tudo que ele queria era vê-la passar e tudo que ela desejava, era partir pra cima dele e penetrar-lhe no fundo d’alma, mesmo que pra isso, não recobrasse mais os sentidos. Ainda assim, valeria a pena – pensava ela. Ah, disso ela tinha convicção!
Então? Será que precisavam da intervenção de terceiros?
E naquela altura do campeonato, quem poderia ajudá-los?
Eu? Não, eu não! Já tenho problemas que chega e não quero enrascar-me ainda mais. Deixa como está. Vocês que são brancos, vocês que se virem - o piso e ele são brancos.
Ah, meu amigo, pra que! Ledo engano... Parece até que dona Onça tinha ouvido. Mal o dia clareou e já vem ela de pedras na mão: eu não aguento mais esta situação. Vê se dá um jeito, cê tá parado que nem ela. Muito mole, isso tá fazendo aniversário, mexa-se. Sacudido fiquei, aturdido acordei, - melhor; sacudido acordei, aturdido fiquei, a ficha caiu, - é que a bermuda tava com o bolso rasgado - e fui correndo à casa do Sr. Rodo. Dei um toque nele e voltei.
Dez minutos depois, chega o bonachão.
Kdê o banheiro, dotô?
Apontei-lhe a suíte.
Ele entrou, encostou na parede, deu uma olhadela nos quatro cantos, - senti nele um arzinho de superioridade - foi quando ele virou e disse:
-sabe dotô; aquí tudo normal, não tem nada demais!
Como não tem nada demais? Isso pro senhor tá certo?
É aquela velha estória de “quero dá, mas tô com medo de doê”, respondeu ele. Desencostou da parede, abriu a porta do box, pegou dona Água descuidada, de um ombro a outro pelas costas, - ela tremeu só com o tamanho do cabo - empurrou-lhe pelo rabo ral'adentro. A cena parecia mais com uma onda gigante, daquelas de surfe do Havaí.
Entrou, deu um beijo de língua no sô Ralo, e lambiscou-lhe o céu da boca. Nessa hora eu interví; quer parar com essa melação dentro da minha casa? Do contrário vou expor os dois. Mudo essa estória de humor, pra conto erótico! Querem ver?
O celular tocou, ela ardeu por aquele labirinto escuro, que mais parecia com interior da gruta de Maquiné, do que com ruas de “ barata a pé “ – perdão; ruas de “ Tatuapé “.
Eis que senão, quando quis olhar pra trás, pra dar conta do sucedido, ela já havia sido tragada por aquele gostosão. Não sei quem entrou em quem, mas pra mim, dona Água já devia estar lá na rua Clara Nunes.
Sô Rodo fechou o box e falou:
Clara Nunes? Não!!! Ela já deve estar pedindo passagem aos carrinhos de supermercados, poltronas, pneus, lá no canal da Bernardo de Vasconcelos.
-Sô Rodo; conta pra mim: isso vai se repetir? – perguntei.
No que foi curto, seco e grosso - na verdade molhado, longo e fino -;
- Vai!!!
Foi quando dona Onça, no pé da porta, entrou de sola;
- ah xente... Não, enquanto eu morar aqui!
Cara... Semana seguinte, foi aquela bateção, aquela quebradeira, vizinho ligando com medo do prédio cair...
Só sei que dona Água nunca mais apareceu. Não pelo menos, pra ficar ali na porta do box, com aquela cara de panágua, esquentando meu cere-belo.
Cansado, cara de cachorro que caiu de mudança, mas fui.
Fui dormir em paz.
Havia tempo que estava observando aquela estranha relação.
De um lado dona Água, espichada na porta do box, contemplando do lado oposto, calado, surdo e mudo o sô. Ralo, que parecia até gostar daquela situação. Tudo bem, cada qual com seu defeito, mas cada um, bem que poderia fazer a sua parte, para contornar aquela situação. Dona Água devia despir-se do orgulho e declinar-se pra cima dele, que por sua vez, deveria ter um pouco mais de abertura, mostrando-se mais receptivo aos seus anseios.
Não se declaravam, mas também não davam o caso por encerrado. Parecia melhor tê-lo.
Eram inúmeras as perguntas que eu me fazia, quando invariavelmente toda manhã, alí sentava bem ao lado deles, com a mão no queixo, querendo decifrar-lhes, - não sei pra quê - arriscando o atraso pro trabalho.
Será que realmente nutriam atração um pelo outro e apenas esperavam por um empurrãozinho, pra realizarem-se? Ou será que eu estava conjecturando demais e nem mesmo eles se sabiam? Não sei, mas, " não há dois, sem três " reza o ditado da sabedoria portuguesa.
Gente, a coisa é tão simples, porque não ir fundo?
Sô Ralo, com certeza, tinha uma grande parcela de culpa naquele quadro platônico. Era um sujeito tipo durão, rijo, sisudo. Não movia uma palha. Não dava um passo sequer. Tudo que ele queria era vê-la passar e tudo que ela desejava, era partir pra cima dele e penetrar-lhe no fundo d’alma, mesmo que pra isso, não recobrasse mais os sentidos. Ainda assim, valeria a pena – pensava ela. Ah, disso ela tinha convicção!
Então? Será que precisavam da intervenção de terceiros?
E naquela altura do campeonato, quem poderia ajudá-los?
Eu? Não, eu não! Já tenho problemas que chega e não quero enrascar-me ainda mais. Deixa como está. Vocês que são brancos, vocês que se virem - o piso e ele são brancos.
Ah, meu amigo, pra que! Ledo engano... Parece até que dona Onça tinha ouvido. Mal o dia clareou e já vem ela de pedras na mão: eu não aguento mais esta situação. Vê se dá um jeito, cê tá parado que nem ela. Muito mole, isso tá fazendo aniversário, mexa-se. Sacudido fiquei, aturdido acordei, - melhor; sacudido acordei, aturdido fiquei, a ficha caiu, - é que a bermuda tava com o bolso rasgado - e fui correndo à casa do Sr. Rodo. Dei um toque nele e voltei.
Dez minutos depois, chega o bonachão.
Kdê o banheiro, dotô?
Apontei-lhe a suíte.
Ele entrou, encostou na parede, deu uma olhadela nos quatro cantos, - senti nele um arzinho de superioridade - foi quando ele virou e disse:
-sabe dotô; aquí tudo normal, não tem nada demais!
Como não tem nada demais? Isso pro senhor tá certo?
É aquela velha estória de “quero dá, mas tô com medo de doê”, respondeu ele. Desencostou da parede, abriu a porta do box, pegou dona Água descuidada, de um ombro a outro pelas costas, - ela tremeu só com o tamanho do cabo - empurrou-lhe pelo rabo ral'adentro. A cena parecia mais com uma onda gigante, daquelas de surfe do Havaí.
Entrou, deu um beijo de língua no sô Ralo, e lambiscou-lhe o céu da boca. Nessa hora eu interví; quer parar com essa melação dentro da minha casa? Do contrário vou expor os dois. Mudo essa estória de humor, pra conto erótico! Querem ver?
O celular tocou, ela ardeu por aquele labirinto escuro, que mais parecia com interior da gruta de Maquiné, do que com ruas de “ barata a pé “ – perdão; ruas de “ Tatuapé “.
Eis que senão, quando quis olhar pra trás, pra dar conta do sucedido, ela já havia sido tragada por aquele gostosão. Não sei quem entrou em quem, mas pra mim, dona Água já devia estar lá na rua Clara Nunes.
Sô Rodo fechou o box e falou:
Clara Nunes? Não!!! Ela já deve estar pedindo passagem aos carrinhos de supermercados, poltronas, pneus, lá no canal da Bernardo de Vasconcelos.
-Sô Rodo; conta pra mim: isso vai se repetir? – perguntei.
No que foi curto, seco e grosso - na verdade molhado, longo e fino -;
- Vai!!!
Foi quando dona Onça, no pé da porta, entrou de sola;
- ah xente... Não, enquanto eu morar aqui!
Cara... Semana seguinte, foi aquela bateção, aquela quebradeira, vizinho ligando com medo do prédio cair...
Só sei que dona Água nunca mais apareceu. Não pelo menos, pra ficar ali na porta do box, com aquela cara de panágua, esquentando meu cere-belo.
Cansado, cara de cachorro que caiu de mudança, mas fui.
Fui dormir em paz.