Este meu canto breve

Eu canto porque o instante insiste,

Pelo que ao instante resiste.

Canto pela causa do cantar,

Como cigarra em noites de lua.

Canto até que meu canto feneça.

Até que minha alma pereça

E não possa mais estar.

Quem sabe, um dia, eu prevaleça

Acima desta torta vida

E lamba minhas feridas

Com a língua áspera e remissiva.

Só não quero o barulho do silêncio

Que faz crescer os frutos nos quintais.

Só não quero um sonhar a esmo,

Que independa deste cantar impreciso,

De que tanto dependo e preciso.

Renovo, enquanto meu canto existe,

Este meu cuidar de sonhos

Ao longo do meu caminho

E me proponho recolher

Folhas murchas e desgarradas.

Quero que ouçam a minha canção...

Sintam a minha canção tão fugaz

Que fala de heróis de papel.

Sobre tudo aquilo que não me dei,

Trago um mangue de lamúrias

E de confusões reticentes,

Ponteadas nesta canção ferida,

Tão ilógica e enlouquecida.

Um dia valerá a pena pegar o horizonte

E vigiar as estrelas de um novo tempo

Em que meu canto de palha

Se transforme em coisa válida,

No que consiste esta vida de nulidades.

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 31/03/2010
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