Um homem do passado.
Quem dera o mundo não fosse um reflexo de mim. Quando chove, choro; quando amanhece, estou morto mais uma vez. Temo o tempo quando o vejo passar e me abandonar estático em qualquer lugar: Pode ser uma paisagem em preto e branco, pode ser um dia nublado, pode ser em meio à calmaria central do Katrina. Enquanto coisas acontecem, estou sempre aqui no mesmo lugar, vivendo as mesmas repetições.
O tempo me divide em dois. Um que envelhece e apodrece; outro que não deixa a infância para trás, não amadurece. Como é possível que eu já seja velho sem ter vivido nada além dos primeiros cinco anos? Até mesmo meus amores estão lá no tempo acabado, e cá, no tempo revivido. Sou um Dorian Gray às avessas? A minha auto-imagem não envelhece, enquanto não sou sempre o mesmo? Posso concluir apressadamente sobre tudo isso que o tempo, divisor de águas, me mantém refém de uma existência ambivalente: Por um lado, velho, enrugado e morto para a beleza; por outro, novo, liso e bem vivo, por isso, belo.
Acho interessante que só tenham se passado 20 anos. Mas isso também é muito tempo. Sinto-me como um penitente, alguém que foi impedido pela justiça divina de exercer sua liberdade. Estou preso, e o cárcere não é o meu corpo, mas o mundo inteiro.
Quem dera uma serpente viesse e me picasse, levando-me de volta ao meu mundinho infantil, onde a minha rosa é a Rosa mais bela de todas, e a única.
Já fui o pequeno príncipe. Peguei o cometa mais errado de todos: Esse cometa não voltará.
Que a serpente me leve em um sonho de retorno.