CONFIDÊNCIA DE UMA ITAUNENSE (COM DRUMMOND)
Nasci em Itaúna, pedra preta. Sempre ouvi contar da fundação da cidade, dos meus antepassados, e, aos pouquinhos, foi crescendo um grande amor pela minha cidade. Meu pai, meu avô, meu irmão, sempre acumularam casos que foram contados, alinhavados e, até hoje, contam e aumentam um ponto. Vi minha cidade crescer; crescemos juntas. Ruas esburacadas, carros de bois, muitas carroças, as vendas, os botequins, casas comerciais onde se comprava tudo: tecido, sapato, chapéu, bengala, enxada, arreio, linha, dedal, agulha, panela...
Vi derrubarem a velha igreja e levantarem, na praça principal, um magnífico templo que enfeitou a cidade. Ajudei muito minha mãe a receber missionários e bispos – pessoas mais importantes que visitavam a cidade. Para a casa paroquial ia a melhor louça, as melhores camas... E, ainda, íamos para as roças pedir ovos e frangos para requintadas refeições na casa do padre. Na minha santa ignorância de criança, achava aquilo um absurdo! Pensava: - “Cristo quando veio nasceu na pobreza. Para que isso?” Mas logo pedia perdão a Deus pelos maus pensamentos.
A cidade cresceu, envelheceu; eu e ela, sempre juntas. Só que, fisicamente, Itaúna ficou mais jovem, mais bonita: ruas calçadas, grandes arranha-céus, belíssimas casas comerciais, uma grande universidade, bairros esparramando-se nos vales, até subindo montanhas. Todavia, para mim a alma de Itaúna era mais bela. As famílias se conheciam e se relacionavam; os bailes, as festas juninas, as festas religiosas... Ah! Que saudade daquele tempo! Não estamos mais crescendo juntas. Estou velha e saudosista. E você, Itaúna, cada vez mais jovem, cheia de planos e sonhos. Precisava ser assim?!