TUDO É QUIETUDE, TUDO É SAUDADE!

É noite.

No alto, as palhas dos coqueiros, os galhos das árvores lentamente se balançam ao sabor dos ventos. Um suave perfume das madressilvas e dos jasmins envolve docemente o ambiente .O silêncio é profundo, a quietude é reconfortante.

De repente começa a chover.

A chuva molha vagarosamente o solo ressequido pela longa estiagem e cai também preguiçosamente no telhado.

No ar agora, o cheiro de terra molhada.

Ao longe, o piar de um pássaro noturno mais parece o chorar de uma criança. A solidão me emudece.

De uma rede armada no alpendre, olho em volta e tudo é escuridão. Ao longe porém, avisto as luzes das cidades e dos povoados.

É hora do trem passar, lá por baixo na colina, mas não ouço o seu característico barulho e seu apito há muito emudeceu; não existe mais o trem.

A estrada de piçarra, outrora a principal, está deserta, não se ouve as conversas, as cantigas das pessoas que iam e vinham das cidades e dos povoados.

Ao longe, na estrada de asfalto, o barulho lânguido dos carros que sobem ladeiras lembra eternas despedidas.

Tento não me deixar envolver nos pensamentos que o ambiente fatalmente evoca, mas sem querer, sem perceber, volto no tempo. Retorno aos meus dias de juventude. A minha vida naquelas paragens. A minha vida numa época em que eu nem gostava muito de morar ou de passar as férias num ambiente tão calmo, com tão poucas distrações. Eu era muito jovem, e o jovem em geral prefere a cidade com suas múltiplas opções de lazer. Eu amava, entretanto, o convívio com meus pais, meus irmãos e tantos outros parentes que ali viviam ou que vinham passar o período de férias.

Por um instante, penso nas brincadeiras, nas conversas, nos jogos e em todas essas pessoas que emolduravam, davam vida àquele ambiente. Vou lembrando, uma a uma. Procuro em volta mas ... que vazio! Vejo que ninguém, nenhum daqueles vive mais por ali. Fico a pensar e me pergunto: onde estarão eles agora? De relance, lembro de alguns que se mudaram, passaram a viver na cidade. E os outros? Onde estão todas aquelas pessoas? Para onde foram?

Uma dor invade o meu ser. Um terrível desalento, uma angústia profunda toma conta de mim. É desolador, é triste demais saber, ter a consciência de que tantas pessoas que ali viveram, tantos entes queridos já se foram.

E a chuva continua a cair.

E tudo é quietude, tudo é saudade!

Antonia Roza