Solidão (em duas agonias) Agonizar I
Solidão (em duas agonias)
Agonizar I
Não aferir peso a dor,
Não conferir dimensão,
Espaço que não se preenche inteiro...
Vácuo da ausência,
Vago da presença.
Vazio.
Só,
Sombrio...
Solidão que rasga cortinas,
Que atira chuva aos raios do sol,
Derrama um galão de preto por sobre o azul...
Solidão ferina,
Algoz do sossego,
Dona do medo,
Par fiel do desassossego...
Quando perto e longe não é simples hiato...
São paralelas,
Fato...
Solidão que abate,
Arrasta.
Domina,
Embate,
Nós tramados pelo silêncio,
Inoportuno velar
Lacrado de sons e palavras...
Incrustado vão...
Destituído de alegrias.
Falta que corrompe
Frio que corrói,
Fatigante.
Tem um não se acomodar interior,
Um remexer,
Uma vontade sem nem de que saber,
Tem um sono que não vem,
Um ansiar de as horas contar,
Uma vontade de os dias pelas noites trocar...
Transpor estações,
Transitar entre o ido e o que vem,
Precipitar-se, catar emoções, ir além,
Depor decretos e sanções...
Tem um olhar perdido,
Um querer não concebido,
Uma palavra sem eco,
Uma letra sem verso...
Têm lábios secos e condoídos,
Bocas de beijos não concebidos,
Mãos rotas de toque,
Olhos em desencontros,
Olhares sem pares, desertos...
Braços em desacordo,
Tem um íntimo dilema,
Um querer fazer poema,
Um aquietar inquieto,
Um escrever disperso...
Um reboliçar, um desacerto,
Um se afogar no medo,
Naufrágio num mar de degredos,
Desafogar os secretos,
Tem pensamentos soltos,
Aspirar revolto,
Insondável segredar,
Confissões por revelar...