Assim, a Memória
A chuva desce pelos vidros ao fim da tarde, a hora aproxima-se da hora, vejo um outro lado de navios, um porto de luzes acesas e viagens adiadas. No interior do café as vozes partiram e ficou o silêncio. Sei que olho para mim e para o silêncio, a página à minha frente se tinge com o mar dos dedos. Os dedos e o lábio das sílabas, outros navios para narrar entre a cisão da neblina. Nem sei. Possivelmente, houve um Outono assim. Chovia. Ao fim da tarde de um domingo possível. Uma cidade possível, nem sei. O mar rondava o vidro dos olhos, o espelho do rosto disfarçado na neblina, eu fixava os navios no porto e o halo azul das luzes. As vozes que partiam e o vento que vinha depois bater em janelas onde nunca está ninguém. Agora a chuva desce pelos vidros originais, subo a gola do casaco, em direcção à noite exterior que me espera.