PERMANÊNCIAS
Quando era criança adorava fazer bolinhas de sabão, de um modo que as crianças não conhecem mais... Não usava argolas plásticas, dessas que vendem na praia, e que soltam dezenas de bolas ao mesmo tempo.. O excesso faz perder a magia de fazê-las.... O excesso não ensina a dedicação, a sutileza, o cuidado, a suavidade...a pausa no tempo...o maravilhamento da descoberta...
Eu cortava uma haste das que sustentam as folhas do pé de mamoeiro, tirava a folha, cortava levemente as bordas , preparava a poção mágica de água e sobras de sabão e só depois de todo o preparo é que fazia as bolas, soprando uma a uma...Era preciso controlar a força do sopro, a velocidade do ar, a quantidade da mistura... E quando se obtinha o domínio da magia, as bolas ficavam imensas, as mais brilhantes que se podia fazer... uma a uma, soprando , deixando soltar, ver voar...deixar ir.....
Naquela época os sonhos cabiam ainda lá dentro das bolinhas de sabão... Hoje em dia, não acho mais os pés de mamoeiros...mas quem aprendeu o domínio dos sonhos sabe que,até hoje, eles ainda caem, suavemente, sobre os sorrisos e sobre os olhares, juntamente com os plátanos no outono.... em Sublime Permanência...