Tem dias em que não me sinto Olímpia
Pode parecer esquisito para quem nunca se sentiu assim, como se não fosse quem é. Mas é esquisito mesmo até para mim que de vez em quando assim me sinto. Já acordo assim, estranha, como se não fosse Olímpia, fosse outra pessoa, da qual não consigo lembrar-me. Acordo e custo a me situar, saber em que cama estou e quando me localizo acho tudo muito estranho como se meu quarto fosse um quarto desconhecido. E ando pela casa como se me faltasse o chão, como se o chão fosse de nuvens e eu não conseguisse me firmar. E as pessoas passam por mim como se fossem fantasmas e eu vejo seus lábios se movendo, mas elas não dizem nada. E todas as coisas me passam uma sensação de irrealidade, não sinto o sabor dos alimentos e quando abro a porta do guarda roupa parece que as roupas são de uma pessoa que não conheço, não vão caber em meu corpo e olhando no espelho parece que aquela que ali está é uma desconhecida. Sei que tenho que sair, ir para algum lugar, mas quando saio não sei para onde ir e os caminhos que ando parece que nunca os vi antes.É uma sensação ruim, de estar fora do tempo, no lugar errado e eu penso: deve ser sonho, ainda não acordei, mas se sonho fosse decerto seria uma pesadelo. Não um pesadelo de horrores, mas um pesadelo de irrealidades que afinal não deixa de ser um pesadelo de horror. E ando assim pela rua não percebendo quem me percebe e tendo a certeza de que o que vejo não existe, seja gente, ou seja, coisa. Tem dias que acordo e não sei quem eu sou e essa incerteza dura tanto tempo que eu chego a pensar que sou outra que entrou por uma fenda no tempo e nunca existiu aquela que eu pensava que fosse. Tem dias, ainda bem que são poucos, os dias perdidos em que me perco de mim. E quando me encontro e volto a ser quem sou, ou o que penso que sou, fico imaginando quem foi essa que de mim se apossou. Tem até um pensamento recorrente que me leva a achar que de dia sou uma e de noite sou outra e que de quando em vez eu troco de lugar sendo quem eu sou no tempo errado, perdida em um espaço do qual não consigo sair. Tem dia. Tem dias. Tem. Que a vida é mistério. É. Um mistério, a vida, que eu levo ou não.
Pode parecer esquisito para quem nunca se sentiu assim, como se não fosse quem é. Mas é esquisito mesmo até para mim que de vez em quando assim me sinto. Já acordo assim, estranha, como se não fosse Olímpia, fosse outra pessoa, da qual não consigo lembrar-me. Acordo e custo a me situar, saber em que cama estou e quando me localizo acho tudo muito estranho como se meu quarto fosse um quarto desconhecido. E ando pela casa como se me faltasse o chão, como se o chão fosse de nuvens e eu não conseguisse me firmar. E as pessoas passam por mim como se fossem fantasmas e eu vejo seus lábios se movendo, mas elas não dizem nada. E todas as coisas me passam uma sensação de irrealidade, não sinto o sabor dos alimentos e quando abro a porta do guarda roupa parece que as roupas são de uma pessoa que não conheço, não vão caber em meu corpo e olhando no espelho parece que aquela que ali está é uma desconhecida. Sei que tenho que sair, ir para algum lugar, mas quando saio não sei para onde ir e os caminhos que ando parece que nunca os vi antes.É uma sensação ruim, de estar fora do tempo, no lugar errado e eu penso: deve ser sonho, ainda não acordei, mas se sonho fosse decerto seria uma pesadelo. Não um pesadelo de horrores, mas um pesadelo de irrealidades que afinal não deixa de ser um pesadelo de horror. E ando assim pela rua não percebendo quem me percebe e tendo a certeza de que o que vejo não existe, seja gente, ou seja, coisa. Tem dias que acordo e não sei quem eu sou e essa incerteza dura tanto tempo que eu chego a pensar que sou outra que entrou por uma fenda no tempo e nunca existiu aquela que eu pensava que fosse. Tem dias, ainda bem que são poucos, os dias perdidos em que me perco de mim. E quando me encontro e volto a ser quem sou, ou o que penso que sou, fico imaginando quem foi essa que de mim se apossou. Tem até um pensamento recorrente que me leva a achar que de dia sou uma e de noite sou outra e que de quando em vez eu troco de lugar sendo quem eu sou no tempo errado, perdida em um espaço do qual não consigo sair. Tem dia. Tem dias. Tem. Que a vida é mistério. É. Um mistério, a vida, que eu levo ou não.