Amor infame
Esparramado...
Estava lá, meu corpo cambaleante, bêbado, sujo,
típico de quem não tem nada a ver, pois não tem o que ver.
Restavam lá, meus sentimentos, jogados, desprezados pela vida,
rejeitados por minha Vidinha, empacotados e prontos para as cinzas.
Esparramado estive, quando à tua procura, esperei na mais absoluta
das paciências, na mais resoluta das burrices.
Não se ama assim. Não. Da minha forma, não.
Amei-te demais.
E enlouqueci,
e deixei-me estar atravessado.
E atravessei-me.
E atravessei aquela rua, desajeitado, decepcionado,
co'o espírito mais puto que já me acometeu,
co'os pensamentos mais fúnebres,
na minha curta viagem,
no atravessar...
Parei,
senti um vento frio,
senti saudades tuas,
lembrei dos teus olhos,
ofusquei-me com uma imensa luz,
achei que era salvação,
pus-me de joelhos no chão,
quando me dei por conta, estava de joelhos, do outro lado, ainda bêbado, ainda sem entender meus sentimentos...
Até que tudo veio à tona,
e eu, mais puto do outro lado,
anotei a placa daquele caminhão e processei-me
nos autos dum amor infame.