O Ser Poeta

Vivia por aí um ser racional. Hora marcada, gastos agendados, um Dom Casmurro, vida pacata, até que a poesia invadiu a sua vida.

Chegou batendo à porta, pedindo licença, que não lhe foi dada.

Como uma louca descabelada, entrou e tomou conta da casa: primeiro umcômodo, depois outro, depois outro, até reinar na casa inteira.

Eu, ser pensante, inteligente, cheio de fazer análises

críticas, procurava ignorá-la embora vivêssemos no mesmo

ambiente. Persistente, disposta a tudo, passou a acompanhar-me no trabalho, teatro, cinema, passeios a pé sem detin o certo. Eu a expulsava e ela a Poesia, paciente e silenciosa, continuava ao meu lado.

Um dia, sem que eu percebesse, talvez enquanto dormia, ou sei lá, envenenou-me. Entrou pelos meus poros, tomou conta da minha corrente sanguínea, alojou-se em meu cérebro, levando-me à

loucura... a mais sã das loucuras...

As cores ganharam novos tons; as árvores, contornos diferentes; passei a ouvir o canto dos pássaros. As ruas passaram a caminhar em ritmo de música e as pessoas, que antes, parece-me nunca tê-las visto, cumprimentavam-me sorrindo.

Foi quando descobri o amor...