CONSTRUÇÃO
 
Não quero falar de saudades, tão minhas, tão curtas, tão findas. Ainda ontem ouvia minha música, tão alta, tão pouco vazia. Cantava flores e amores que não encontram mais um lugar. Hoje é tudo um passado decente, uma coisa linda na vida da gente, que foi dormir no museu, um pequeno exemplo para grandes lembranças futuras. Hoje tenho medo de falar de amor, porque preciso conceituar definir melhor um beijo carinhoso, um abraço apertado, um olhar e um piscar malicioso, hoje tenho medo de ouvir primeiro: Pode ser, mas não parece verdadeiro. O que será do amanhã, dessa minha voz engasgada, dessa dor noturna, desse sono curto e recortado, dos meus versos francos e da minha poesia solta, de poucas e
pobres rimas ? Mas existem heranças a serem construídas de outras heranças recebidas, da minha separo esses versos que me confortaram num instante de dúvida.