DEBRUÇADA NA PONTE

Debruçada na ponte, sobre o rio da minha história, vejo passar os sentimentos-fantasmas indo sempre em direção a porto inexistente e, sobre eles, as mesmas nuvens sombrias de palavras e silêncios a relampejarem eterna tempestade iminente.

As palavras-muros cercando, como sempre, o possível-impossível Real cercando, como sempre, as mesmas mãos invisíveis estendidas, como sempre, a outras mãos invisíveis também, que já não vêem os acenos que se estendem, invisível teia de esperança sem palavras nem mãos.

Debruçada na ponte sobre o rio da nossa história, há séculos acompanhando a passagem dos sentimentos-fantasmas, ai, pobre deles, em direção ao sem rumo da sua história.

Re escrita de poema original de 14 de abril de 1990.