Da caneta ao teclado
Antes eu escrevia os poemas, crônicas, no caderno, com caneta.
E escolhia as canetas nas prateleiras dos supermercados como uma preciosidade. As escritas finas eram as preferidas.
Os cadernos com as páginas mais brancas, os escolhidos.
Era um momento especial e toda atenção era dada a ele.
E todo lugar era o melhor lugar para escrever.
Banco de rodoviária, assento de ônibus, encima da cama, na mesa da cozinha, no banco da praça, nos cartões postais da cidade, à sombra dos arvoredos, na beira da praia.
As inspirações seguiam diretas do coração ou da imaginação para as folhas.
Com a aquisição de um velho computador e o digníssimo teclado o caderno ficou guardado, a caneta esquecida.
Algumas vezes retorno aos cadernos e ressurgem textos antigos com novo formato, sentimentos atualizados.
Mas é difícil alterar algo que já escrevemos com o coração.
Parece-me uma violação de algo que deveria ser eterno.
Cada sentimento surge em determinado momento.
Eles algumas vezes se alteram com o passar dos anos.
Mas importante é que ele fez parte de um dia, de um momento de felicidade ou de dor e naquela situação foi criado o poema, a prosa, a crônica.
Confesso que muitas vezes fico emocionado ao ver as escritas no caderno.
Aqueles rabiscos feitos nos cantos dos textos me revelam os acertos dos pensamentos, a concordância verbal, os alertas dos pontos.
E quantos textos ficaram lá e lá ficarão para sempre, enquanto durarem as páginas.
Nem mesmo os poetas, revelam tudo ao mundo das letras.
Escondemos aquelas “fraquezas” que não interessam aos demais, apenas a nós mesmos.
A crônica “O pescador” escrevi em homenagem ao meu ex-sogro, Sr. Domingos, amigo eterno.
Das escritas em caderno foi um dos textos que mais me emocionaram pelo sentimentalismo que ali está colocado.
De qualquer forma, o importante é colocar os sentimentos em evidência e o fazendo através de escritas variadas, gravações, imagens... Deixar o mundo mais perfumado, mais colorido, mais consciente dos verdadeiros valores que dignificam o Homem.