Sobre querer acertar ( EC)

Sobre querer acertar (EC)

Querer acertar.

Mas o que fazer quando pela vida os desacertos se impõem tão rigidamente, vedam possibilidades coerentes e lá vamos nós, certos dos atos e incertos dos acertos?

Como acertar se somos tragados pelos atraentes enganos, perfeitos e insuspeitos, e nos atiramos, achando-nos donos da melhor decisão? E lá vamos nós outra vez, potentes iscas na boca da serpente, e olha que tem um rol de abutres amolando as facas, afiando os garfos, prontos para se banquetear com nossas míseras sobras, migalhas dos atos falhos. Restinhos do que fomos.

E assim, vamos aos porcos nos atirando.

Como acertar?

Se acertar requer aguçado tino, intuir ferino, pensar reto, rezar um credo, mandingar sentimentos, acender fogueiras e pisar brasas, beber sal ante o cálice da divina tentação?

Como, eu te pergunto, como?

Fustigada estou,

Enrugada estou,

Esbranquiçada sou,

Mente arranhada,

Mal soletrada,

Idéia afogada,

No rio,

Na estrada,

Trilha errada.

Quase sempre enganada.

De acertar, quase, não sei nada.

E me vem a cinza do pressuposto acerto, e vem a sombra da armadilha astuta, da vilania fantasiada em alvos tons...

Pura, genuína hipocrisia.

E vêm sortilégios, teias e aranhas caranguejeiras, no punho da rede descendo matreiras enquanto durmo,

Ferroada certeira.

E vem a perfídia do homem a flor derradeira, que oferta pétalas e finca espinhos envenenados.

Cicuta em homeopáticas doses.

Como se fazer acertar?

Na vida apostar,

Para o acerto apontar,

Atirar na mira,

Alvejar.

Acertar a hora, o dia,

Acertar.

Na feira,

Sem fazer asneira.

Na selva de humanos,

Na treva dos planos,

No jogo, jogar.

Não diminuir,

Diluir,

Somar.

Não dividir,

Multiplicar.

Acrescer,

Vencer.

Acertar,

Agregar.

Como?

Perigos atravessam pistas,

Erros são avalanches,

Desmoronam e soterram o querer,

O alcançar...

Acertar...

Tudo por um acertado acertar.

Meu reino por um ínfimo acertar.

Um prêmio, um bônus,

Um acerto ganhar.

Continuo trilhando, enquanto houver vento que voejam cabelos,

Corto as ruas vislumbrando o entorno,

Sei, não haverá uma exatidão,

Sei. Sei-me errante, a transpor o tempo do olhar,

Quem sabe?

Quem saberá?

Quiçá cruzo com o acerto na contramão?

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Eu Só Queria Acertar.

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Roseane Namastê
Enviado por Roseane Namastê em 12/03/2010
Código do texto: T2134101
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