Quando a chuva passa?

O Ciclo das águas sempre indica que retornam todas as coisas naturais. Um "viciado" poderia dizer, tanto que sempre volta a chover, quanto que a chuva sempre passa. Já os mais serenos vêem que às vezes chove, às vezes não; que chove agora porque não chovia ou que choverá porque não está chovendo.

É uma pena que com o indivíduo não seja assim também. Da vida, tal como é percebida na imanência, só se pode dizer o que diz o viciado, e apenas uma vez; mas não se pode dizer nada pela serenidade. Por um lado se diz no nascimento que o indivíduo está vivo agora porque não estava antes, e na morte, que está morto agora porque estivera vivo; por outro, não há como dizer que o morto viverá novamente. Agora, são todos viciados. Nem mesmo os mais serenos escapam a isso.

Vale à pena construir um castelo de areia? De que vale acreditar em coisas que já estão destinadas à destruição?

A chuva veio mais uma vez e destruiu tudo o que já fiz. Enquanto estou seguro em meu refúgio, minhas "várias vidas" são destruídas pela força das águas, do tempo. Tranco-me em mim mesmo para não mais ouvir nem ver as barbaridades humanas, enquanto deixo à mercê da água o que estive construindo por algum tempo: Meus amigos, meu trabalho, meus estudos formais. Enquanto estou aqui, tudo vira lama lá fora. Quando olho para fora, para a chuva, e vejo meus castelos se diluirem, sinto que falhei mais uma vez, que todo meu trabalho não valeu à pena, que terei que fazer tudo novamente, e que estou ficando cada vez mais fraco para esse tipo de coisas.

Espero que o dia em que já não me for possível um abrigo, que fique ao menos a lama como lembrança de que também estive lá fora na vida humana.

Gabriel Dorio
Enviado por Gabriel Dorio em 09/03/2010
Reeditado em 13/03/2010
Código do texto: T2128663
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