Chuva

É noite. Agora chove na rua. Não sinto o gotejar diretamente, mas pelo vento frio que entra pela minha janela, sei que a água também está muito fria.

Nesse mundo em que casas são invadidas constantemente, sinto-me sempre seguro quando chove, pois imagino que os animais procuram sempre se abrigar quando a água gelada cai. Imagino também que nenhuma alma se atreverá a entrar pelas minhas janelas abertas (e elas sempre estarão assim, pois não tenho as condições necessárias para pôr as vidraças), nem forçar minhas portas já suficientemente forçadas.

Assim também é o meu ânimo presente. Sinto-me um pouco cego e incapaz de observar com clareza os limites do que sou e do que não sou, mas não encontro a possibilidade que tanto espero para desembaçar meus pensamentos. Sinto-me um pouco frágil por não ter forças para impor barreiras às companhias que me fazem tanto mal e que me roubam de mim mesmo. Mas sinto-me seguro quando chove, pois sei que as lágrimas estão lá fora, e imagino que não estejam molhando meus amigos.

Assim somos todos nós que fugimos para nosso íntimo abrigo quando o mundo está repleto de lágrimas. Quando chove lá fora, não devemos chorar dentro de casa ou em lugar algum: Nossas lágrimas podem se tornar frias, e isso nos tornaria insensíveis.

O conforto das noites chuvosas é sempre mais vivo em nossas casas, quando podemos inverter nosso cotidiano e parecer secos quando úmidos, e quentes quando frios.

Gabriel Dorio
Enviado por Gabriel Dorio em 09/03/2010
Código do texto: T2128652
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