TETO DE VIDRO
Ser eu
Maior desafio que há
Desenterrar os olhos da vitrine perfeita
Sugar a ninfeta do poema e segregar
Do grosso e intenso douto
Sufragâneo e estrondoso
Sapecar as palavras de pierrôs sedentos
Por colinas de sangue e saliva dançante
A limar orgias, acolchoa-las entre os peitos
Sentir o jeito seco do fino leito
Onde o flamboyant perde flores
E engata amores na hirsuta aurora
Tem irmãs nos imãs das horas
É pedir calma à luva da morte
Por sorte, o telhado gambeteia.
Ser eu
Colméia recheada de ouro
Pouca sofisticação deitada na palha
Da bochecha amainando o sorriso
Que recado o prado acampa?
Meto-o no alforje da alma
E desencanto o decantado limo
De algazarra e podridão
De picadeiro e limão
Sorvete escorrido, lume na mão
Do boto das manhãs silvestres
No álbum de ira do palanque
Fito um instante, eulália jeitosa
Sinto arcanjos, belzebus e malaios
Giro os raios a atingir as calças da dor.