TETO DE VIDRO

Ser eu

Maior desafio que há

Desenterrar os olhos da vitrine perfeita

Sugar a ninfeta do poema e segregar

Do grosso e intenso douto

Sufragâneo e estrondoso

Sapecar as palavras de pierrôs sedentos

Por colinas de sangue e saliva dançante

A limar orgias, acolchoa-las entre os peitos

Sentir o jeito seco do fino leito

Onde o flamboyant perde flores

E engata amores na hirsuta aurora

Tem irmãs nos imãs das horas

É pedir calma à luva da morte

Por sorte, o telhado gambeteia.

Ser eu

Colméia recheada de ouro

Pouca sofisticação deitada na palha

Da bochecha amainando o sorriso

Que recado o prado acampa?

Meto-o no alforje da alma

E desencanto o decantado limo

De algazarra e podridão

De picadeiro e limão

Sorvete escorrido, lume na mão

Do boto das manhãs silvestres

No álbum de ira do palanque

Fito um instante, eulália jeitosa

Sinto arcanjos, belzebus e malaios

Giro os raios a atingir as calças da dor.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 09/08/2006
Reeditado em 22/06/2008
Código do texto: T212795
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