Ao encantador de sereias
Não houve tempo de maior delicadeza que aquele em que nos debruçávamos na borda do barco e desenhávamos na água nossos sonhos.
A correnteza nos levava... O céu nos protegia, um sol de beleza inundava nossos corpos e eles transbordavam, a enxurrada carregando mágoas, boiando vontade e fé.
Lembras-te do canto das sereias? Lembras-te do pente translúcido com que lhes desembaraçavas os cabelos?
Não houve tempo de tanta certeza quanto aquele em que escutávamos juntos a voz do vento e das estrelas...
Soubesse eu a verdade daquele tempo, o teria guardado mais que na memória, o teria tornado para sempre: não mais calaria meu coração de ninfa, jamais pegaria os remos, deixar-me-ia naufragar, eternamente...