Omissão

Quando foi que decretaram a lei onde se diz que o ódio deve ser o senhor?

Tenho a impressão que nesse dia eu estava dormindo.

Quando foi decretada a lei que dizia ser a amizade banida do convívio humano?

Creio ter sido nesse dia que tirei férias.

Como puderam impetrar a lei em que o homem seria o algoz do próprio homem?

Será que nesse dia estava Deus dormindo?

Como é que a mentira instalou-se tão sorrateiramente no coração do ser humano?

Porque a verdade não se manifestou?

Até quando a injustiça vai prevalecer ante a crueldade?

Ouço gemidos tão altos que são gritos desesperados dos suplicantes esquecidos.

Vejo a fome matar milhões, vejo a sede imolar milhares, vejo a ignorância condenar centenas á morte.

E sinto-me impotente ante o descaso, a mesquinhez, a tirania e a vilania.

Sou só um, os poderosos são muitos, e aqueles que se omitem estão em número ainda maior. (Posso ser beija flor, ante o incendio, ah sim, eu posso.)

Porque se assim não o fosse, algo seria feito, algo seria ao menos tentado, para mudar esse estado de coisas que coisifica o ser humano.

Quando será ouvida a voz do caído, do escravizado, do martirizado, do esquecido?

Até quando a lei subverterá a razão?

Será que Deus vai continuar dormindo? E quando é que nós vamos acordar, voltar de férias, fazer alguma coisa para apagar do mundo a maldade que existe por nossa própria omissão?