Eis-me em mim: NADA

Vem a tristeza.

Vem o caos interior.

E estou me acabando,

como sempre imaginei,

sem margens ou escapes,

iludido e cambaleante,

cheio de um nada superior,

cheio de um nada que me torna um nada.

E nada sou,

nem poeta,

nem proeza,

nem alguém,

nem insigne.

Sou apenas a matéria que ocupa a mesma cadeira,

todos os dias,

com a cara de besta,

com os bolsos vazios e o pecúlio contado.

E abate-me a tristeza,

e transtorna-me a seleção natural...

Não sobrevivo.

Vivo às custas de minhas ilusões.

E as esperanças são vendidas,

e as letras desfazem-se,

e o espírito torna-se matéria,

provando-me que do nada ao nada é que se faz a vida.

E, aproveitando o embalo descompassado da canção,

eu me vou...

Vou-me ao encontro deste nada que me invade, para que, se possível,

eu possa deixar o nada para a posteridade.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 05/03/2010
Código do texto: T2121351
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