Eis-me em mim: NADA
Vem a tristeza.
Vem o caos interior.
E estou me acabando,
como sempre imaginei,
sem margens ou escapes,
iludido e cambaleante,
cheio de um nada superior,
cheio de um nada que me torna um nada.
E nada sou,
nem poeta,
nem proeza,
nem alguém,
nem insigne.
Sou apenas a matéria que ocupa a mesma cadeira,
todos os dias,
com a cara de besta,
com os bolsos vazios e o pecúlio contado.
E abate-me a tristeza,
e transtorna-me a seleção natural...
Não sobrevivo.
Vivo às custas de minhas ilusões.
E as esperanças são vendidas,
e as letras desfazem-se,
e o espírito torna-se matéria,
provando-me que do nada ao nada é que se faz a vida.
E, aproveitando o embalo descompassado da canção,
eu me vou...
Vou-me ao encontro deste nada que me invade, para que, se possível,
eu possa deixar o nada para a posteridade.