Quando calo...
Quando calo...
Por vezes, ausento-me das palavras,
Para ficar a sós,
E escutar um silêncio que faz ópera em mim...
Calo, consentidamente...
Nesse instante vasculho o breu da saudade,
Das abissais e agasalhadas verdades,
Volto aos lugares onde empalhadas estão as lembranças,
E assim revigoro as desidratadas alegrias,
Restaurando o que é desfeito pelo tempo.
No âmago, permissivamente...
Por épocas necessito estar muda,
Lacrada de vozes e vazios,
Careço de vedar pensamentos vãos,
Regressa nessa turva viagem,
Introspecta,
Inversa.
Cesso, passivamente...
Há momento em que ensurdece o calado eco do meu ser,
Ruidosa lacuna,
Abstida que sou de quem fui...
Então me aparto,
Necessário que é um estremar.
Delimito o trilhar interior,
Sou parte, re-partida,
Intriga da partilha.
Percorro uma ou mais vidas...
Rompo-me, inadvertidamente...
Tem dias e mais dias que me acho intrusa em mim,
Aquém do espectro que me molda,
Busco indicar a saída,
Intento fechar-me para fora desse labirinto.
Perder as marcas que simulam a volta...
Apagar da memória o próprio chão.
Aniquilo-me, condescendente...
Há um tempo de pleno padecer,
De flagelo e submissão
Ao que dilacera,
Dores de penúria,
Do corte, da fúria,
Da estridente,
Aviltante,
Condoída e condizente
Atroz e aparente,
Algoz,
Pesarosa...
Implacável
Inexorável solidão.