Conveniência

Casamos lá,

na beira,

na margem,

escondidos.

Casamos sós,

digo,

sós e duplos,

sem testemunhas,

sem sacerdotes,

sem lero-lero.

Casamos já na lua de mel,

e invertemos a ordem das coisas,

que ordem pra nós é desordem pra vós,

e seguimos,

e casamos.

Está casado.

Está consumado.

E fazíamos amor,

um ao outro,

um no outro,

um pelo outro.

Até que aquela lua de zinco soltou um gemido estranho,

invejoso,

sagaz e curioso.

A lua não tem mais amores.

Nem São Jorge,

nem Jorges ben,

nem ninguém.

A lua era nossa,

e nós da lua...

Mas o amor era alheio...

E esbarrou em nós naquele momento.

E adentrou nossos corpos para fugir novamente.

E saímos.

Fomos embora.

Terá o amor esbarrado na lua,

ou amores só esbarram quando se faz conveniente?

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 04/03/2010
Código do texto: T2119929
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