Conveniência
Casamos lá,
na beira,
na margem,
escondidos.
Casamos sós,
digo,
sós e duplos,
sem testemunhas,
sem sacerdotes,
sem lero-lero.
Casamos já na lua de mel,
e invertemos a ordem das coisas,
que ordem pra nós é desordem pra vós,
e seguimos,
e casamos.
Está casado.
Está consumado.
E fazíamos amor,
um ao outro,
um no outro,
um pelo outro.
Até que aquela lua de zinco soltou um gemido estranho,
invejoso,
sagaz e curioso.
A lua não tem mais amores.
Nem São Jorge,
nem Jorges ben,
nem ninguém.
A lua era nossa,
e nós da lua...
Mas o amor era alheio...
E esbarrou em nós naquele momento.
E adentrou nossos corpos para fugir novamente.
E saímos.
Fomos embora.
Terá o amor esbarrado na lua,
ou amores só esbarram quando se faz conveniente?