Da próxima vez eu consigo....
Vou mais fundo, até perder os sentidos...
O céu vai escurecer...
O chão vai sumir...
As vozes virão ao longe, num desespero quase incompreendido...
Vou ouvir choros e soluços de remorso
por não me terem ouvido...
por não me terem acreditado...
por não me terem amado...
por tanto me terem julgado...
Mas então, será tarde...
Eu terei ido tão fundo, que nem reconhecerei suas vozes...
Serão todas iguais...
Todas estranhas...
Todas estúpidas e patéticas a gritar meu nome,
num desespero quase real...
Eu ouvirei passos antes de chegar aqui...
Ouvirei sorrisos... e gargalhadas... e alegria...
Mas estarão todos tão distraídos de mim...
Estarão todos agindo como se eu não estivesse presente...
Estarão se divertindo como se não houvéssemos eu e minha dor...
Passarei horas tentando prender - lhes a atenção... em vão...
Ninguém me notará...
Ninguém se importará...
Então, em certo momento,
meu corpo buscará minha alma no fundo da casa...
Estarei ausente do salão, mas não tentarão entender...
Algum tempo depois, encontrar - me - ão ao acaso...
caída no chão...
com os pulsos cortados... sangrando...
o peito dormente...
as vestes indecentes... o corpo quase nu...
A face úmida, fria e pálida...
E eu ouvirei gritos... tão distantes... tão desesperados...
num desespero quase inaudito...
E eu verei vultos de pessoas à minha volta... mas não as reconhecerei...
E não haverá mais nada que possa ser feito:
eu terei ido fundo demais no meu desejo de não sobreviver!
E eu sentirei lágrimas caindo sobre mim...
tão frias...
tão malditas...
malditas lágrimas...
de que me valerão nesse momento?
Eu vou me divertir com seu sofrimento!!