[A Secura do Silêncio]
[Acho que não cabem comentários a este texto, pois
é apenas uma revisitação de um escrito que não vou nomear,
mas quem sou eu...]
Ao longo de um ínfimo trecho
da despertencida Estrada
onde caminham os viventes,
de mim, nada ficará, nada!
O esquecimento inevitável
é mera questão de um dia após
o outro, e o outro, e o outro...
Nem tantos como sugere
a extensão do verso!
Mas, e naquela precariedade
do curto espaço-tempo,
quando ainda a falta vige,
ou ausência ainda é sentida,
terá alguém o cuidado
de apagar os meus rastos,
as marcas da minha passagem?
Exposto... sem merecer
abutres que limpem
o mundo de mim,
sem um deus a me resgatar?
Será? Não — já os vejo baixar
o vôo soturno sobre mim!
Simples encargo, mera
incumbência essa que deixo
para aves tão nobres...
Que ironia... e que vingança
insípida é saber que, mesmo inerte,
eu possa infestar os pensamentos
daqueles que me odeiam,
ou daqueles a quem eu não
retribui o delírio de um amor...
Como rasgar as fotografias
gravadas na mente?
Como não ser um par de olhos
assim, vigentes na profundeza
absconsa da mente de alguém,
como um fogo que não se extingue,
senão no último suspiro?
[... e naquele ínfimo trecho da Estrada,
já se apagou a luz do meu olhar,
fica apenas a secura do silêncio...]
[Penas do Desterro, 03 de março de 2010]