Mesmo que minha pele lamente, como a terra anseia pela semente, que seu abrigo me cubra e more em seu peito uma súplica, e ainda que seja minha a escolha, mesmo assim, sei que sofrerei.
Tola ou demente, liberta ou cativa de amarras por vezes tão seguras, mesmo assim, sofrerei.
Mesmo que de sua pele uma vontade, que foge ao lógico, oferece o abraço, sonhe o futuro, assegure o impossível, espante os fantasmas, e ainda que seja sua a escolha, mesmo assim, sei que sofrerá.
Prova o cheiro, sente o vulto, entrevê o sentimento, vive o sonho, viaja a rotina e, mesmo assim, sofrerá.
Anjo caído ou ao céu elevado, pastor ou ovelha, guia ou por ele conduzido, mesmo assim, sofreremos.
Do passado, a imagem.
Somente no olhar se vislumbra a vida.
Vida que não foi o bastante para preencher o vazio da irrealidade, mas suficiente para erguer a barreira mais sólida que se palpável fosse.
Do passado, a figura imóvel, somente no olhar se percebe a lágrima. Único sinal de uma vida que fora sonhada e só em sonhos, vivida, alcançando voo, exultando de amor, sentindo suas marcas.
E, assim, sofremos.