O solitário

Na vida acontecem fatos senão cômicos, curiosos. Faz uma semana que fui a uma festa e, num dado momento, em que as mulheres se reúnem para falar de suas vaidades, conquistas e aquisições, de repente, alguém disse: “Olha o meu anel!” ... Os olhares se voltaram invejosos, percorrendo as mãos para constatar se era realmente de valor.

Era um anel de diamante. Não muito grande, mas, nem por isto, deixou de ser a estrela da festa. Cada uma foi mostrando assim o seu símbolo de status.

Do meu canto, onde era apenas uma observadora daquela cena, como borralheira fui chamada para apreciar as lindas peças, percebi quando miraram minhas mãos onde em um dos dedos descansava um anel.

Ouvi uma voz esganiçada dizendo: “Nossa! Não precisa humilhar!” Ao contrário do que ali todos pensavam, o meu anel não fora presente de admiradores, assim como meus brincos. Foram frutos do sacrifício de parte dos meus salários quando solteira. E tinha orgulho disto.

Apesar de ser uma pessoa simples adquirira peças caras. Na verdade, para dar-me algo que pudesse lembrar para sempre da dignidade do trabalho. Afinal, os diamantes são para sempre...

Ajudava em casa, comprava meus livros e me vestia. Por que não os diamantes?

Paguei a perder de vista por aquele mimo. Sempre os uso sem me lembrar de retirá-los.

Hoje, pela manhã, depois de lavar a louça do café, não percebi que, sorrateiramente aquela pedrinha reluzente e transparente se soltara das garras que a prendera por mais de trinta anos no aro ao redor do meu dedo.

Não acreditei! Não tive reação nenhuma. Olhei dentro da cuba de inox da pia... Revirei o lixo onde jogara os restos recolhidos. Nada... Pensei: Que olho!

Não senti raiva. Apenas assombrada.

Na realidade esta gema quis sua liberdade e voltava a percorrer o caminho para chegar ao fundo de algum rio ou lago qualquer.

Apesar do prejuízo, resolvi que tão cedo não colocaria outra em seu lugar. Era apenas um acessório... Um brilho fútil que ostentava como seu próprio nome: um solitário.