Sonho

Estavas lá?

Sim, filho,

estavas lá quando eu te procurei?

Fazia-se escuro,

a chuva sobre nós,

nós a sós,

o berço,

a cama.

Procurei teu corpinho,

seguindo teu cheiro,

escutando o teu balbuciar,

mesmo sem vozes ou sons

no nosso quarto.

É que pai é louco mesmo...

E eu sou louco por ti.

Mas, onde está o Isac?

Onde o meu pequeno?

Vou ao berço,

fui ao berço,

desesperei-me,

despertei-me, acusei os céus

pela ausência de meu filho.

E foram-se as horas,

e foram agonias,

e tudo amanhecia,

tudo,

desde o céu

ao mais remoto sentimento que eu guardava em mim...

E aos mais agudos gritos,

gritos internos,

abafados,

silenciosos,

sob a magia da madrugada...

acordei com aquela voz que

primeiro desperta

todas as manhãs,

aquela voz que

se reconhece através do tom,

através da singularidade,

através do PA-PA/PA-PA...

Pa-pa, pa-pa, pa-pa....

É que o meu filho me virou às avessas.

É que meu filho é mais meu,

é mais meu...

É que a vida não me é valiosa o bastante...

Apenas seus ramos,

apenas as ramificações.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 28/02/2010
Código do texto: T2112005
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