Sonho
Estavas lá?
Sim, filho,
estavas lá quando eu te procurei?
Fazia-se escuro,
a chuva sobre nós,
nós a sós,
o berço,
a cama.
Procurei teu corpinho,
seguindo teu cheiro,
escutando o teu balbuciar,
mesmo sem vozes ou sons
no nosso quarto.
É que pai é louco mesmo...
E eu sou louco por ti.
Mas, onde está o Isac?
Onde o meu pequeno?
Vou ao berço,
fui ao berço,
desesperei-me,
despertei-me, acusei os céus
pela ausência de meu filho.
E foram-se as horas,
e foram agonias,
e tudo amanhecia,
tudo,
desde o céu
ao mais remoto sentimento que eu guardava em mim...
E aos mais agudos gritos,
gritos internos,
abafados,
silenciosos,
sob a magia da madrugada...
acordei com aquela voz que
primeiro desperta
todas as manhãs,
aquela voz que
se reconhece através do tom,
através da singularidade,
através do PA-PA/PA-PA...
Pa-pa, pa-pa, pa-pa....
É que o meu filho me virou às avessas.
É que meu filho é mais meu,
é mais meu...
É que a vida não me é valiosa o bastante...
Apenas seus ramos,
apenas as ramificações.