O Mundo Que Não Vejo
E a minha prisão é a mediocridade...
Não posso tocar o topo das árvores
E não compreendo a beleza das baratas.
De tanto o vento me chamar, fiquei surdo.
E quando ele passa, meus olhos ardem.
Ele não me acalenta mais...
Privo-me da terra fértil, que amacia os pés
Não noto o simbolismo das flores, a mensagem
dos pássaros, o espetáculo único de cada pôr-do-sol.
Meu receptáculo é raso, não há ponto de confluência.
Os rios me deixaram quando eu deixei de ser pequeno.
E me tornei pequeno.
Não me enxergo nos espelhos d'agua, já que eu nunca
os visitei. Não iriam querer meu reflexo neles.
Imagem turva.
É que minha pequenez espiritual não permite
olhar o Mundo que já foi pleno,
mas que não perdeu a sua magnificência,
mesmo escondido debaixo do cimento,
oculto pela fumaça,
encoberto pelo esgoto,
Renegado pela "razão" humana.
Ele continua livre e assim sempre o será.
Enquanto eu subsisto trancafiado em pedantice
Bebendo o vazio e comendo as migalhas da minha
ínfima existência passageira.