O vício que me move

Só uma coisa me move por hora:

a certeza de estar vivo.

Mas, não vivo pra vida.

Vivo sim, mas, para um destino

etimológico e estranho,

insano,

cadavérico.

É que as coisas são estranhas quando, a certa altura da vida,

decidimos converter pecados em obras.

Sou pecador,

logo,

sou obreiro,

ou melhor,

poeta.

E poetas também sofrem (ou sempre sofrem?)

Pelo menos eu sofro.

Pelo menos como caraterística peculiar ou parte desse cálice ridículo que a vida nos impõe?

E eu sofro.

Sou mendigo ante as palavras,

rejeito minhas naturezas na busca do infinito dom de

manter as palavras ao meu lado,

sob meu domínio.

Mas, sangro,

sofro novamente,

desamo,

desarmo-me,

entrego-me...

E esse vício maldito,

verbal,

vulgar...

Só uma coisa me move ao fim:

a certeza do meu fim tão infinito...

A certeza de que eu passo............

juntamente com elas.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 26/02/2010
Reeditado em 27/02/2010
Código do texto: T2108697
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