O vício que me move
Só uma coisa me move por hora:
a certeza de estar vivo.
Mas, não vivo pra vida.
Vivo sim, mas, para um destino
etimológico e estranho,
insano,
cadavérico.
É que as coisas são estranhas quando, a certa altura da vida,
decidimos converter pecados em obras.
Sou pecador,
logo,
sou obreiro,
ou melhor,
poeta.
E poetas também sofrem (ou sempre sofrem?)
Pelo menos eu sofro.
Pelo menos como caraterística peculiar ou parte desse cálice ridículo que a vida nos impõe?
E eu sofro.
Sou mendigo ante as palavras,
rejeito minhas naturezas na busca do infinito dom de
manter as palavras ao meu lado,
sob meu domínio.
Mas, sangro,
sofro novamente,
desamo,
desarmo-me,
entrego-me...
E esse vício maldito,
verbal,
vulgar...
Só uma coisa me move ao fim:
a certeza do meu fim tão infinito...
A certeza de que eu passo............
juntamente com elas.