[Na Vertical do Tempo]

[Elas não incrustam, não se agarram como

as cracas aos cascos das embarcações:

ao depois, a navegação será livre, como antes]

Se o tempo é vertical,

ou horizontal... faz sentido?

De que serve espacializar o tempo -

esse mistério da minha relação

com as coisas - se nem sei de mim?

Verticalizar — decidir... agir? Será?

Se não é, serve também...

No clic de um instante sem duração,

mudar o curso da monotonia!

Verticalizar o tempo seria assim,

algo como empurrar um corpo

para a queda-livre num abismo?

O que eu procuro, mesmo sabendo

que nunca achei... até ontem?!

Mas, hoje é hoje... hoje,

eu posso verticalizar!

Eu sei que ao cair da tarde,

quando o meu carro me leva

por ruas de ansiedade sem um quê,

elas surgem, faces limpas, belas...

Procuram um arremate para o dia,

querem alguém que está perdido,

e não sabe o que fazer com a tarde

caindo sem piedade, inapelavelmente...

Alguém disposto a verticalizar,

a dar aquele clic num infinitésimo da vontade,

a empurrar o corpo para o abismo dos desejos,

alguém que pensou nisto o dia todo,

que as sonhou até, e agora, é só um lobo errante...

Há nesta hora uma disposição de verticalizar

o tempo, transtornar os sentidos,

corpos na horizontal, à meia-luz...

Suave penumbra de um quarto no entardecer,

um lugar calmo, e um aroma de flores da noite...

Na certa que banalizei a idéia...

mas, que estranha história é essa que se dá

assim, rápida, na vertical do tempo...

O incerto bote da cascavel — quando?

[Se não fui obscuro o bastante,

então, fiquei aquém da intenção!]

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[Penas do Desterro, 25 de fevereiro de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 25/02/2010
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T2107452
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