[O Errante]
E, a modo de mastigar lentamente
As raízes amargas que afloram
Por entre as pedras do meu caminho,
Este caminho que é só mais
Um descaminho no meu imenso,
Imensurável e absurdo viver,
Eu sigo pelos trieiros cinzentos
Da vida que tracei sem pensar,
[Porém, de tanto pensar...]
Retroceder não me é permitido,
Sigo sempre e sempre, sem esquecer
Do meu inalcançável passado.
Os trieiros são vários, são infinitos,
Partem dos azares das miríades de escolhas
Apenas tornadas claras na manhã seguinte!
E, no entanto, se muito tropecei,
Se muito sei das dores que eu carrego,
Pouco sei das dores que eu causei,
E ameaço: a barriga não dói uma vez só!
— Esta é a mais pífia, a mais inútil vingança
De quem, de saída, perdeu a vez e a jogada!
[Penas do Desterro, 30 de novembro de 1998 – velhos excertos... Caderno 2 p. 46 e 48]