Flores de plástico

Com quantas pedras se faz um rancor?
Quanta negação é necessária
para endurecer um coração?
quantos olhares baldios
abraços sem laços
mãos sem encontro
são
a medida certa
para o primeiro prozac?

E a gente fala do calor escaldante
da menina cadeirante
que na novela tem tudo
e a gente constrói o escudo
que pode evitar a bala perdida
mas...
o que pode ser feito
pra que no peito
o coração bata mais leve
num allegro leve e bonito
como um desenho ingênuo da Disney?

As calçadas andam solitárias
de amorosidades
as samambaias choronas
já ficaram acinzentadas
nas grandes cidades
E?

As flores de plástico
anunciam um novo tempo
de arremedo
de jeito torto de ser
ou será gauche?

Tempo pra nada
investir só no descartável
ouvidar o palatável
os sabores das manhãs
e a Lua prateada que
ainda não desistiu de nós

Mas se estamos sós
num universo de cada um pra si
e somente Deus pra todos
o que fazer?

Tenho resposta não
mas ainda não abri mão
do meu quinhão de ternura