Desamores

¨Não entre sem permissão, cão bravo e raivoso¨.

Está entendido, meu amor?

Não entre sem permissão !

Há cães que guardam e vigiam meu pobre coração,

e qualquer tentativa absurda de invasão pode trazer

sérias consequências.

Não estou aberto às cantigas que me trazes.

Não estou à vontade para me submeter às tuas vontades.

Já desamamos uma vez...

Então, por que mexer na mesma ferida que cicratizei com tamanha dor?

Não, moça.

Não hás de adentrar-me o coração.

Fora o teu cheiro.

Fora os teus jeitinhos.

Fora a tua existência.

Que eu exista.

Que seja eu o visitante,

em mim mesmo,

reconhecendo,

farejando, juntamente com os meus cães de guarda,

o terreno que eu posso fertilizar.

Amores?

Que se amem, mas, sem mim.

Sou das tangentes,

das enchentes,

e vou-me já.

E se isso te consola: sigo sozinho para não estar tão sozinho ao teu lado.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 24/02/2010
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