Desamores
¨Não entre sem permissão, cão bravo e raivoso¨.
Está entendido, meu amor?
Não entre sem permissão !
Há cães que guardam e vigiam meu pobre coração,
e qualquer tentativa absurda de invasão pode trazer
sérias consequências.
Não estou aberto às cantigas que me trazes.
Não estou à vontade para me submeter às tuas vontades.
Já desamamos uma vez...
Então, por que mexer na mesma ferida que cicratizei com tamanha dor?
Não, moça.
Não hás de adentrar-me o coração.
Fora o teu cheiro.
Fora os teus jeitinhos.
Fora a tua existência.
Que eu exista.
Que seja eu o visitante,
em mim mesmo,
reconhecendo,
farejando, juntamente com os meus cães de guarda,
o terreno que eu posso fertilizar.
Amores?
Que se amem, mas, sem mim.
Sou das tangentes,
das enchentes,
e vou-me já.
E se isso te consola: sigo sozinho para não estar tão sozinho ao teu lado.