[A Sombrinha Azul-Florida]

[Em algum ponto de minha estrada, eu vi esta história]

Rangendo molejos sem unto,

a charrete dobrou a curva do estradão.

O dia era de festa, alegrias, esperanças;

mas estes meus olhos sabem, desde cedo,

cavoucar tristezas em qualquer cena:

os sulcos das rodas da charrete na poeira

marcavam um compasso de dor

em meu peito apertado.

Talvez aqueles sulcos quisessem

dizer-me qualquer coisa...

No murmúrio do vento apagando

o traçado da charrete na poeira,

um prenúncio do [escasso] tempo porvir?

A noiva, com a sombrinha azul-florida

cuidava uma sombra para os dois;

ele sacudiu as rédeas e apressou

o passo da parelha de cavalos

com um chiado na língua.

[Da varanda, eu os vi desaparecer na estrada,

E no tempo... E então, eu sabia que eu ia envelhecer...]

Trinta e cinco anos depois,

pela porta do casarão da fazenda,

sai um tosco esquife: ele parte, ela fica.

Lá dentro, ergue-se o doloroso pranto da perda...

Ela chora a perda de um amor tão venturoso

que, se de algum consolo serve,

não lhe deixa memórias de dias ruins.

Agora, ela trilhará sozinha o resto dos seus dias

e haverá somente um para a sombra

daquela sombrinha azul-florida.

Ah, que inveja eu tive dele!

[E eu... eu envelheci só, e em silêncio]

[Penas do Desterro, 08 de maio de 1999]

[excerto do meu Caderno 1]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 21/02/2010
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T2098720
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