Terá sido um sonho?

Fez o almoço, comemos, ela arrumou a cozinha. Fui me deitar um pouco. Adormeci e acordei com alguém me chamando. Via ninguém, mas ouvia o chamado. Espiei pela janela, abri um pouco mais a persiana, virei a cabeça e espichei o olho. Uma forma branca se debatia lá fora, no chão de cimento. Era ela.

Corri para perto, me olhou e emitiu uns sons _ Ahahahah. Perguntei o que queria, com esforço balbuciou:

_ Áááguuuaaa.

Me apressei _ uns dez ou vinte metros a percorrer, no entanto, foram quilômetros. Trouxe meio copo de água. O tempo para preencher o copo, a eternidade, precisava voltar em seu socorro.

Ergui sua cabeça, sorveu um gole. Arrastei-a, queria levá-la até a cama, me parecia muito doente, nunca havia tido nada, e agora, a cama para ela, o melhor lugar. Pesava algumas toneladas, não fui longe _ caí sob o batente da porta da cozinha.

No final, fomos socorridas as duas. A partir de determinado momento, de nada me lembro, juro. Dessa história herdei uma pequena bola perto da virílha. Hérnia, lembrança daquele dia de carregar um peso quase insuportável. Morrerei com esta marca, que volta e meia me doi.