SEM PALAVRAS
A inspiração fugiu
Já não encontro esquinas perdidas
Nas ruas da minha poesia
Está tudo apagado e a produção é um risco
Não me arrisco...
Breve eclodirá a bomba dos desafetos
E, no meu ventre tenho um feto
Breve morrerá...
Pobre famigerado
Sem pai, mãe, sem passado
Não nasceu e não pode ser velado...
A inspiração não veio
Morreu num buraco feio e úmido
Com frio, com fome, com medo de nascer, da escuridão da noite
Sentindo os açoites que lhe dera a vida...
Nem sequer fechou a ferida
Que guarda há muito no peito
Não terá jeito?
Coitada da palavra perdida
Desceu no eito do caminho
Já não encontra o ninho, nem um pergaminho no afago das páginas...
Júlia Rocha 23/07/2002