___MEU PAI , NÃO ERA HERÓI___
Ele era um homem apático e inexpressivo.
Não esboçava sorrisos, tão pouco emoção.
A rua para ele era o paraíso e nossa casa
uma prisão.
O dinheiro escaso pouco chegava a mesa.
O ruído da infância tivera o som de gritos e xingos.
Para uma menina existir era quase um castigo.
Quando cresceu aquele senhor de mãos pesadas
e voz de trovão não mais era um bicho papão.
Era apenas um miserável buscando alívio de si
mesmo na bebedeira, mulheres e jogatina.
A velha casa cheirava a tabaco e perfume barato.
Não havia prece na mesa, nem cama quentinha.
Sobre o chão de assoalho vermelho estopa era a cama.
E o coração pulsava acelerado ansiando paz.
Quando a barriga cantava o som da fome, se faziam silêncio.
Como se assim a triste canção fosse emudecer.
E um dia aquele homem não voltou para casa....
Talvez jamais tivera uma para retornar.
Os dias de temores deram lugar a esperança.
E meu pai passou a ser o senhor esquecido em algum
IML, ou prestibulo barato da cidade.
Desde este dia minha mãe voltara a sorrir, olhos brilhantes
resgatando a vida que lhe fora negada.
-Sallita-