Meus pés nos teus pés!

Vem!

És minha... cá... minha!

Aonde foram teus pés?

Tenho os imaginado fora do chão...

Meio cambaleantes, descalços e sem reservas.

Despudoradamente, arrasta as escamas por aí...

Caminha na minha cabeça...

Corre pelas minhas veias com esses pés desnudos

Desavergonhados e pintados de vermelho!

Vem!

Dança com eles aqui e me ensina a tocar esse céu

Que fazes refletir no mar dos meus olhos

Esses pés enlouquecidos que transitam dia e noite

Nas leiras abertas dos meus pensamentos

Ah! Sementes jogadas... planto:

Pés de vento,

Pés de árvore,

Pés de mesa,

Pés de ouvido...

Nessa plantação maviosa, meu intento

É te lembrar que tuas raízes são aéreas

Por isso, embelezo teus pés e os entrego...

Lúdicos e cobertos de uma poética azul celestial

Após ter deslizado neles o branco da minha saudade

Sem esquecer as sonoras batidas do coração

Ao dançarmos no compasso do vermelho!

Vem!

Faz a festa nos pés da minha história e chama outros pés

Para o ritual de passagem na fabricação do nosso vinho...

Deixa-me meter os pés pelas mãos, embebidos de amor

Permita-me verter minha linguagem escorrida em néctares

Saboreando com a fórmula, as tuas asas delicadas

Com mel, canela e pimenta, tratá-los como uma iguaria

Comer o chão que eles pisam e sussurrar canções da ventania...

Como são elegantes os teus pássaros!

Vem!

Com essas asas beijar meu cotidiano inaudito

Feras indomáveis! Sigo as pistas que eles demarcam

Pois, me dizem algo inusitado... segredado, nas cheias da Lua...

O que as asas dos meus calcanhares já sabem:

Para quem tem pés alados todo caminho é movediço e todas as passagens são rotas incertas para ser-pensar-sentir.

Seilla Carvalho
Enviado por Seilla Carvalho em 19/02/2010
Reeditado em 27/06/2013
Código do texto: T2094716
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