[Paisagem do Nada]
Queixumes inúteis
ao léu da noite...
Visitações insones
às quadras daquele prazer;
eram outros instantes,
quando tudo parecia
fazer sentido... e fazia!
Reclamos do corpo,
uivos de cão solitário
a revolver o lixo das incertezas;
eu, a perder-me de mim...
E perdi - tanto fiz, tanto...
Mas, sem fazer o que devia,
restei só, nesta paisagem que criei,
a paisagem do nada...
Agora, sentido...? Nenhum.
Só este escoamento morrente,
manação destes becos d'alma;
vida-rio que apenas desaparece
nos desertos... nos meus desertos,
estes restos do meu nada ser,
a voragem dos tempos idos...
Tempos em que a escureza
do olhar era o ápice do prazer,
trama sutil de um encontro,
encontro da vida inteira...
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[Penas do Desterro, 18 de fevereiro de 2010]