Porque sei que mereço

Não conheço uma pessoa melhor que tu para me falar quem eu fui, o que sou e o que serei. Não conheço ninguém com quem posso afirmar que aprendi algo tão fundamental, e abrangente, de uma forma tão simples como tu me soubeste ensinar: o que é o amor e porque necessitamos dele nas nossas vidas. Ninguém me tinha dito, nenhuma pessoa se deu ao trabalho de perder a raridade que é o tempo, para me ensinar que o amor sempre existiu, que é proveniente de nós, e que em qualquer altura da nossa vida, somos como quase que obrigados a permiti-lo sair para oferecer um pouquinho do que temos de bom ao próximo.

É muito fácil agradecer, mas é muito difícil amar quando jamais soubemos exatamente o que fazer para impressionar, para ser feliz.

Não sei por onde começar, nem sei se desejo iniciar... Mas tu mereces escutar muitos "agradecimentos" que nunca te soube dizer, ou por ausência de coragem ou então porque jamais tive a quem agradecer o que apenas tu me presenteaste... E por diversas vezes que te expresse gratidão, nunca vai parecer bastante, para o muito, para o tudo.

Devo-te grande parte do que sou, quiçá seja por isso que me dói dar existência a tantos sonhos, tantas expectativas ao redor do que já se foi... Todas as reflexões, todas as noites sem dormir a pensar no que poderíamos ser, tornam-se dignas de zombaria porque por vezes uma pessoa de carne e osso é bastante necessária, ainda que seja apenas para encostar a cabeça.

Tenho que te pedir perdão, por mereceres mais do que eu sou e do que te ofereci, por todo o sofrimento, por todas as lágrimas que provavelmente deixaste cair, e por não ter sido eu, a pessoa de carne e osso a quem te podias encostar, quando todo o mundo parecia permanecer em oposição a ti e na realidade a única que permanecia era eu, mas contra mim. Perdoa-me por ter sido inútil, e por me ter transformado num ser insignificante e sem sentimentos que jamais fui. Fizeste-me beber do veneno que eu te dei, do meu, o que te faz um homem justo, coisa pela qual jamais te julguei. Nós, seres humanos, somos cômicos, e eu como tal, sou digna de desprezo, por não encontrar palavras nem para te agradecer, sequer para me perdoar. Mas obrigada, e perdão.

Não vou mencionar que te amo, isso não basta. Mas sinto-te, e enquanto estiveres em mim, enquanto me lembrar de ti e de nós, isso basta-me para ter conhecimento de quem sou. Iludi-me quando pensei que era forte, a única força que existia era a tua, e desprovida dela, falo-te com todas as letras que não sou coisa alguma. E é por isso que renuncio, por ser frágil, por não ter força, nem rumos para prosseguir. Fiquei parada onde tu me deixaste, e permaneço à expectativa que voltes atrás para me vires procurar. Quando chegares, vou prosseguir ao teu lado sem te questionar, porque sei que para onde for, tu irás permanecer ao meu lado, para conseguires me atirar à cara que mereço tudo o que (não) concedes. E não me vou importar, porque sei que mereço (não) escutar.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 17/02/2010
Código do texto: T2091790
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