Tu
Tu,
Ao que dormes,
Pereces em desamparo,
Leve e sereno, é pintura ao meu olhar,
Não só olho,
Aprecio o quadro,
Divago ao contemplar teu descanso,
Não sei as linhas suavizadas do teu rosto,
Ou as formas marcantes do teu corpo,
Ou o teu nu desconcertante,
Mexem, auferindo luz do meu olhar...
Como que em transe, confiro teus fios em desalinho,
Sigo em riste perscrutando,
Cada sinal em tua pele,
Fico tentada a tocar...
Seduzida a avançar...
Mas apenas meus olhos conferem,
Intensa, doce e ardente apreciação...
Parece que pressentes que estou velando,
Teu corpo move-se preguiçosamente,
Já não há mais lençol,
Pleno e desnudo,
Sem saber
Completas o desenho que faz meu olhar...
Amplia-se num espasmo incontido a obra-prima,
Arroubo de tela inteira...
Agora sim,
És obra exata,
Paisagem por sobre a cama.
E vem da janela a brisa contracenar,
O quarto inteiro se propõe qual cenário,
Suave e claro,
Quase chega o aurorescer...
E lá estou,
Observando enlevada tua arte,
A cena,
Tu,
Teu nu,
Teu sono afinal...
Não respiro,
Não quero a ti despertar...
Teu dormir é zona de encantamento,
E cá estou,
Silente e fascinada...
Êxtase do mirar...
Movimenta-te sonolento ao meu deliciar,
Sinto perto o calor do teu respirar,
Quando então abres lentamente os olhos,
Teus cílios tocam os meus magicamente,
E nus os olhares se permitem...
É assim que fazes o convite,
Pois já sou enlaçada por ti...
Adentro então teu cenário...
Somos agora obra única...
Já não sou eu a te fitar...
Teu sono vigiar.
Sou novamente o pleno objeto do querer,
Somos a soma do infindo desejar...
Pertenço então ao teu inteiro devotar.
Meu desejo o teu a despertar...
Acordando,
Acordados,
Acordo de intenso e pleno amar...