BORBOLETA - MULHER ( a partir da leitura de uma imagem)

Anunciar a aparição da borboleta-mulher…vê-la, a imagem, desaparecer…reaparecer…novamente sumir…e assim indefinidamente (fiquei olhando, muito tempo). Destino da poesia, destino de poeta: um arauto, uma imagem, aparições, desaparições… A imagem é perfeita, o anúncio da borboleta-mulher… magnífica, ícone do exercício poético. A realidade…Que é a realidade? Não tenho a mínima idéia. Dentro da realidade vejo-me e sinto-me inerme, sem forças, sem liberdade e este ver-me, este sentir-me assim é que me são o único real de que me dou conta : não poderia ser, esta fraqueza, esta ausência de coragem, menos reais; quando, no entanto, penetro no universo poético, sinto-me efetivamente real e viva. Fuga? Com quase absoluta certeza mas também, com toda certeza, sendo-me o único espaço de liberdade, de escolha até … não tenho poder nem direito, eu, para decretar o fim ou a atenuação do presente tempo. Assim é, meu caro poeta, assim é, poeta de mundos antigos, neste século XXI do qual também não me sinto parte, jamais me sentirei parte.Fazer o quê? Sobreviver e salvar o possível e o passível de ser salvo.

Ah, esqueci de fazer menção às máscaras, uma em cada asa da borboleta-mulher, ou/e da mulher-borboleta. As máscaras, ícones também do teatro. E assim, entre ícones e ícones nos movemos, nós, pobres títeres, quase sempre simulacros de nós mesmos. Da compreensão dessas coisas vivo; da compreensão dessas coisas morro. A sentença é inapelável.

Zuleika