+CARNAVAL SOLTANDO A FRANGA
CARNAVAL SOLTANDO A FRANGA.
O carnaval tai. Amarras serão quebradas, algemas serão rompidas, "frangas" serão soltas. Estabelecem-se mais a permissão consentida em que qualquer um poderá assumir suas fantasias no gestual, na vestimenta, no desejo, no sonho. Afinal, tudo pode no carnaval: ser colombina, pierrô, personagens do bumba-meu-boi, maracatu, La ursa, cabocolinho, cavalo-marinho, etc. Mas o maior personagem será o de si mesmo, imiscuindo-se nos blocos e troças do Recife, nas escolas de samba do Rio de Janeiro, nos trios elétricos da Bahia ou em qualquer lugar do carnaval. No Recife, os "blocos do eu sozinho" são fantásticos: pessoas sozinhas com suas fantasias inusitadas fazem festa e despertam atenção dos turistas. Personagens de todos os tipos desfilam nas ruas de Olinda e do Recife Antigo, dentro dos Papangus de Bezerros ou esticando para Triunfo.
RECIFE "freve". O Galo da Madrugada já nem madruga mais, tamanha é a concentração no centro da cidade. Misture a isto os blocos famosos que, liricamente, emocionam a todos. Madeiras do Rosarinho, Bloco das Flores, Batutas de São José, Lili, Vassourinhas, O Bonde, Bloco da Saudade, Banhistas do Pina, Pás Douradas. Troças como Ceroula, Segura o talo, Cabeça de Touro, "Enquanto isto na sala de Justiça", Ceroula, As Catraias, A Corda, A Porta, Segurucu e Segurucuzinho, Arriando Sua Sunga (Ariano Suassuna) e tantos outros que não caberiam neste artigo.
O carnaval libera quem se prende, mas quem não se sente preso faz o quê? O importante é o sentimento da festa, independente do que nos amarra ou nos prende, porque, a rigor, todos têm SUAS algemas e nosso "céu de brigadeiro" pra voar ao infinito. Imagino que estruturas existam pra serem quebradas; solidão pra ser rompida, ilusão pra ser real... Ou não. Conceito não é confeito, mas é sempre muito relativo, como relativo é o tempo de vida e de morte, de dor sentida e consentida.
Quero-me na liberdade que enaltece, mas deixem que eu me escravize do amor que amordaça o peito e leva ao desespero do inexistir com vida.
Levo pro meu bloco, minhas anotações coloridas. Papel crepom enfeita meu reinado, enquanto me visto de pierrô e colombina para que no domingo seja um, na segunda seja dois, na terça-feira me perca entre um e outro. Porque na quarta não serei cinza, nem pedirei perdão pelos pecados que a carne não pediu para COMETER.