Num Banco de Praça
Sentado num banco de praça, José ensaia um nome. Todo seu corpo parece meditativo no cheiro desejado. Nem as flores com seu perfume habitual de coisas conhecidas o distrai. Seus olhos, numa atmosfera flutuante, envolvendo-o em sonhos.
Ocupa-se da alegria de saber-se o pensamento dela. Tem tantas vontades guardadas no coração. Ver-lhe os olhos sorrindo a ele. O abraço da hora da chegada. A faceirice dela em contar-lhe de onde mora. Mergulhar-lhe nas palavras, em seu mundo distante dali. Tocar com as mãos o rosto cheio de um brilho do Equador. Arrumar com os dedos os fios dos cabelos finos que teimam sempre de parecer menina despenteada. Ver Maria... Pousar os olhos nela e ouvi-la falar.
Cruza as pernas mansamente. Passam tipos conhecidos. Alguns pombos vêm colher migalhas no chão. Um aroma de alecrim e de flores de jasmim ganha a tarde. Não sabe explicar o suspiro que lhe vem ao peito. Serve-se do riso das crianças a brincar na pracinha. Sai um sabiá da árvore a seu lado; bate as asas tão delicadamente que o corpo do homem saboreia o voo. O sino da igreja toca.
É hora da Ave- Maria!
José palpita interiormente. Devagar os lampiões acendem-se. A praça toda iluminada. O vento arrasta as folhas do chão para junto do banco. Ele admira os movimentos naturais. Sua alma pensa em Maria a dançar num ritmo tropical ao calor do vento. Sente um frio na espinha. Os pelos do braço arrepiam-se. Primeiro vem o medo. Depois, ele se sente adolescente enamorado. Sorri. Então, permite a seus lábios falarem: Amor. E todo seu corpo gosta.
Quem puder sentar num banco de praça numa tarde de outono, vai conhecer José e saber do que falo...