Florbela Espanca: Poeta Mulher

Florbela Espanca

8 de dezembro de 1894/8 de dezembro de 1930

Poeta Mulher

Penetrar o universo mítico de Florbela, é observar o excesso de admiração e amor pela própria imagem e por si própria. Nessa adoração do próprio eu, há um amor exagerado, e circunscrito a si mesma: um verdadeiro egotismo.

Pode-se dizer que esse sentimento exagerado da própria personalidade, somado a escassa consideração pelo sentimento e opiniões alheias, a situa no universo da síndrome de Don Juanismo ou compulsão por sedução.

Sentimento que figura em sua persona como transtorno caracterizado por necessidade compulsiva por sedução, envolvimento sexual, e fracasso no envolvimento emocional, tudo isso, determinado por relacionamentos íntimos pouco duradouros ou até mesmo inexistentes.

Excessivamente sedutora, Florbela, não raro, apropria-se dessa síndrome, e em geral, tendo como alvo pessoas "difíceis" ou "proibidas" de serem alcançadas, cria condições para que essas pessoas facilmente por ela venham a se apaixonar.

É certo que o indivíduo acometido por tal infortúnio, logo se apercebe de que o parceiro ou o relacionamento não há mais graça e, por fim, acaba por abandonar a pessoa.

Esses indivíduos não se apegam aos seus parceiros, pois possuem apenas uma atração fugaz, em qu,e quando o outro é conquistado, este mesmo vira enjoativo; sem graça e sem atração, logo desaparece.

Na conjugação de seus versos, Florbela, a poetisa do amor, identifica-se como motivo único e verdadeiro para expressar-se em veemência voluptuosa de sua libido freudiana.

Controversa nas contradições humanas, a vivenciar uma cultura exacerbada no preconceito e nos resquícios marcantes da cultura medieval, traz em seu nascimento, fruto dessa cultura, as marcas da incoerência social decadente de costumes ainda primitivos.

Filha ilegítima de pais incógnitos, somente será reconhecida como filha dezoito anos após sua morte. Predestinada a marcar sua época, não será agraciada com a maternidade, o que de certo, ficará marcado em sua conturbada existência, no que se pode somar a ilegitimidade filial.

Nessa atmosfera surreal, uma conspiração vai amalgamar um estilo próprio e conflitivo. Amor e ódio, de permeio a sua poesia, a identifica em um contexto de lutas e conquistas.

Conquistas que a historiografia poética nos revela não só o seu mundo, mas, um universo de possibilidades em suas construções e o total desprendimento a formalismos estilísticos de época.

Ainda que burguesa egocêntrica, sua obra chora suas experiências pessoais; conflitos, perdas, e nos lega a certeza de que só o esdrúxulo, e maléfico preconceito do homem, é capaz de destruir uma poetisa: Florbela Espanca.

Roberto Ramón
Enviado por Roberto Ramón em 10/02/2010
Reeditado em 13/11/2015
Código do texto: T2079873
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.