Ela
Ela está me assustando. Sei que está cortando laços, desistindo, ausentando-se.
Ela está se apossando de mim; desconheço tal ser e não sei o que fazer dela.
E serei ela, ou ela será um eu no qual terei que me acomodar e aprender a sê-la.
A tal desconhecida está desmoronando alicerces que me sustentavam; já não crê no dia seguinte. E o que é o dia seguinte além do suposto continuar e continuar o quê? Rotina do querer... Não a vejo querendo prosseguir com coisa alguma.
Assusta-me sim, ainda que a desistência realmente não coloque o ponto final que ela teima em acreditar existir.
Esvaindo de forma destemida, destemida porque há mais esforço em esvair-se que eu podia imaginar.
Então ela vai, e eu? Vou junto já que ela é eu? Mas eu não quero, não quero sua insistente desistência. Vem-me o ponto que desequilibra meu instante-instante. Em águas salgadas ela desnudou-se e iniciou a posse no instante em que tive consciência dela. Ela-Eu.
Há quanto tempo ela-eu estava presente e não quis ou não pude aceitar? Muitas interrogações me vêm e vou nelas. Elas... Eu e ela. Sou ela, sempre a terceira pessoa que nunca se desprendeu de mim. A serenata muda transformou-se em grito escancarado ao meio-dia-sol-chuva.
Estou entre mim e ela e num quase nada ficarei definitivamente sendo ela e desistindo de mim.
Lenço branco no porto agito em minha própria despedida. Sereno. Frialdade que me envolveu numa coisa desconhecida, mas sei que é bom, mesmo que sinuoso. Sinuoso? Até que eu desvende realmente não passa de constatação do óbvio.
Que coisa! Então me olho e digo: que coisa! Para mim mesma? É, finalmente para mim mesma...
-Que coisa!