À parte

Quando o rio passar, avisa-me, amigo.

Quando tudo passar, avisa-me.

Venho tentando sentir o sabor da vida,

sem visão,

sem visões ou paisagens,

ou imagens,

ou tua silhueta...

Quando a vida chegar, avisa-me, amigo.

É que preciso pagar alguns trocados,

é que a dor merece troco...

E que troco !

Suprime-se-me a concepção das coisas,

covardemente,

da forma mais suja.

E eu perdôo,

e sigo convicto,

e não hesito para não deixar de vencer.

Mas agora vem o troco:

vida amiga dos ladrões,

a visão que me roubaste,

sem pena ou piedade,

pelas mãos de um marginal,

receba em vosso singular colo maculado

a minha obra.

Obra minha,

que te vence,

que sobrepuja teus conceitos,

que faz de mim um vivo à parte.

Vivo à parte.

Vivente à parte.

E já não és a única...

Há uma vida que vem de mim.

E já não és a mais bela...

Há mais beleza quando não há visão.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 09/02/2010
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