À parte
Quando o rio passar, avisa-me, amigo.
Quando tudo passar, avisa-me.
Venho tentando sentir o sabor da vida,
sem visão,
sem visões ou paisagens,
ou imagens,
ou tua silhueta...
Quando a vida chegar, avisa-me, amigo.
É que preciso pagar alguns trocados,
é que a dor merece troco...
E que troco !
Suprime-se-me a concepção das coisas,
covardemente,
da forma mais suja.
E eu perdôo,
e sigo convicto,
e não hesito para não deixar de vencer.
Mas agora vem o troco:
vida amiga dos ladrões,
a visão que me roubaste,
sem pena ou piedade,
pelas mãos de um marginal,
receba em vosso singular colo maculado
a minha obra.
Obra minha,
que te vence,
que sobrepuja teus conceitos,
que faz de mim um vivo à parte.
Vivo à parte.
Vivente à parte.
E já não és a única...
Há uma vida que vem de mim.
E já não és a mais bela...
Há mais beleza quando não há visão.