[Terno de Linho]
[Não custa nada repetir fatos que só mudam de cara...]
Branco, de ferir a vista da gente,
todo quebrado em dobras tremulantes,
barras das calças redobradas, bem passadas e rebatidas
sobre os sapatos perfeitamente engraxados —,
assim é que deve ser um terno daqueles!
Se quiseres, completa a indumentária
com um largo chapéu Panamá!
Tu sabes bem,
gente importante anda assim,
com um belo de um terno desses!
É gente que pode
ferir,
expropriar,
corromper,
viciar,
estuprar a tua irmã,
torturar a tua mãe, bem na tua frente,
te pendurar no pau-de-arara,
te castrar, passar sal no corte,
e te obrigar a comer os teus próprios testículos,
e depois, te enterrar meio-morto...
E a justiça, nem rela a mão nele!
Tu sabes disso tudo...
Ou vais fazer de conta que não sabes?
Sabes sim! Pois não foi o homem do terno de linho
quem meteu o teu pai na cadeia?!
Eu me lembro...
Eu vi os grossos pingos das tuas lágrimas
manchando de tristeza a escadaria da cadeia!
O homem do terno de linho,
é poderoso ele mesmo, ou....
serve a alguém mais poderoso que ele!
Sempre foi assim, e assim será!
Ou vais reagir? Hein?! Vais?!
Queres levar uma tunda dos peões dele?
O que é isso?! Faz 500 anos que não reages!
Logo agora, achaste de te engraçares?!
Nunca te esqueças disso,
olha bem o homem do terno de linho:
nas rodas de conversas com os donos da cidade,
vez por outra, ele mete as mãos nos bolsos,
e sacode aquelas dobras do terno,
só para intimidar os passantes!
Assunta, espreita as vítimas ao alcance de seu poder!
A gente pobre da nossa cidade, já sabe,
com o homem do terno de linho,
quebrado em dobras tremulantes,
não se brinca de jeito nenhum!
Fica longe dele... nem atraias a sua atenção,
e se tu, um zé-ninguém, levantares os olhos,
já é desafio, será a tua desdita!
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[Excerto do meu livrinho "Araguaris(Narrativas Poéticas)"]