Por alguns trocados
...E agora estou aqui sem parentes, sem amigos, sem dinheiro, sem nada e até sem paradeiro, sem saber em qual estrada, em qual dia da semana irei morrer, sem um pouco de café, sem ter o que comer, sem roupas e de tanto andar descalço, tenho um calo no meu pé, vivo como um fio de nylon rumo ao fundo, tentando fisgar um peixe, na porta da igreja vou pedindo que me deixem... Quero a paz e a liberdade, mas, não tenho, quero correr, brincar e sorrir como menino de engenho, na porta do cemitério é um mistério, velas e vozes se escondem, se acendem e se apagam, se eu não sair daqui alguém ou a polícia me apaga e quem paga é minha mãe se eu morrer aqui em qualquer porta... Ela me manda ir pra rua e quando volto, assim muito cansado os trocados é pra ela que eu dou, serve pra me dar comida e o que vestir vou arranjando por aí...Na porta do cinema é um dilema, não posso entrar, sou criança e o filme é proibido, é sacanágem como fazem comigo e meus amigos nas esquinas, quero só ganhar dinheiro pra comer, mas, me chamam "trombadinha" e me botam pra correr, meu remédio é ser malandro e não dou sorte, ali sentenciei a minha morte, tentei roubar um pão e não deu certo, me bateram, puseram-me no porta-malas, um mês depois me mataram na prisão, era bandido! Eles dizem nos jornais... E agora! Quem sofre é minha mãe, por não ter o que comer, sem os trocados que eu ganhava, ela agora vai morrer.